As Humanidades e as tecnologias digitais

Blue network cable - curvedA tarefa de zelar pelos objetos do conhecimento e de criar e organizar os espaços para sua preservação e circulação coube tradicionalmente aos humanistas, que ao longo de séculos criaram e mantiveram bibliotecas, arquivos, catálogos, glossários, edições críticas e outros instrumentos destinados a conservar, ordenar e explicar o texto. Na comunidade de saber assim formada, os humanistas especializaram-se em organizar papéis e livros (mantendo os arquivos e bibliotecas e catalogando seus conteúdos de acordo com estruturas temáticas complexas), em explicar papéis e livros (fazendo sua edição crítica e estabelecendo o melhor texto, construindo dicionários e glossários), e criaram, nos últimos séculos, diversos instrumentos auxiliares do saber: a biblioteca, o arquivo, o catálogo, o glossário, o dicionário, o texto crítico.

Esses instrumentos nasceram no ambiente da difusão manuscrita e se adaptaram aos paradigmas difusão mecânica (de fato, cresceram e se sofisticaram depois de seu surgimento).

O advento da difusão digital, entretanto, marca um deslocamento nessa trajetória. As radicais transformações operadas pelas tecnologias digitais sobre a lógica da organização do conhecimento não nascem nos ambientes tradicionais do saber humanístico: são importadas da terra estrangeira onde habitam o número, o cálculo, e a máquina.

Talvez por conta desse deslocamento, as tecnologias computacionais produziram de início um atordoamento nos ambientes tradicionais das ciências humanas, de modo que, ali, uma das reações às formas digitais de difusão e organização da informação foi a recusa.

É verdade que, na última década, diferentes instâncias da prática acadêmica (como a organização das bibliotecas, a correspondência, a leitura de publicações científicas) foram absorvidas pela lógica da informática – de modo que, em vários aspectos do seu cotidiano, o humanista passou fatalmente a fazer uso de ferramentas digitais.

Entretanto, o problema da relação entre as humanidades e o mundo digital, entretanto, vai muito além da participação do humanista como usuário de tecnologias.

Há questões epistemológicas, metodológicas e políticas em pauta:

– Podem os humanistas retomar a tarefa de zelar pelos os objetos do conhecimento nesse novo paradigma?
– Podem as disciplinas tradicionais atuar como criadoras de tecnologias na nova lógica da difusão digital do texto?
– Que impactos essa atuação pode ter sobre essas tecnologias, sobre as políticas de produção e difusão do conhecimento e, por fim, sobre as próprias “humanidades”?

Para alguns pesquisadores, o impacto das tecnologias digitais sobre o trabalho nas ciências humanas (e, reversamente, o impacto do trabalho em ciências humanas sobre as tecnologias digitais) é de tal modo central na atualidade que faz emergir um novo campo de estudos: as chamadas Humanidades Digitais. Os debates em torno deste campo têm abordado o problema da relação entre as ciências humanas e o mundo digital sob diferentes perspectivas – tomando o meio de difusão digital como instrumento de pesquisa e como objeto de reflexão, analisando seus impactos sociais, científicos e existenciais.

> “Humanidades Digitais” ?

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